OXUM

Também conhecida como Osúm, Osún, Oxun, Oxum ou Oloxum, é o orixá que reina sobre as águas doces, rios e cachoeira, divindade do rio Oxum, na Nigéria. Deusa do amor, da riqueza, da intimidade, da beleza e da diplomacia. Ela é a representação da sensibilidade, da delicadeza feminina e da paixão para motivar a essência da vida. Através de Oxum, as pessoas buscam auxílio para a solução de problemas no amor, uma vez que ela é a responsável pelas uniões, e também na vida financeira, a que se deve sua denominação de “Senhora do Ouro”, que outrora era do Cobre, por ser o metal mais valioso da época.

Obs: Oxum - Nome de um rio em Oxogbô, região da Nigéria, em Ijexá.

Sincretismo Religioso

Nas religiões afro-brasileiras é sincretizada com diversas Nossas Senhoras, como por exemplo: Nossa Senhora da Conceição e assim também como Iemanjá, a qual é sincretizada com a Nossa Senhor das Candeias.

“Oxum é a Afrodite africana, porém banhada de ouro e sensualidade”

MITO: Oxum e o Caçador

Diz a lenda, que Oxum, deusa belíssima, tinha desde muito jovem o hábito e ir banhar-se nas águas cristalinas do rio que lhe dava nome. Na primeira vez que Oxum, ainda menina, colocou os pés adentro do rio, as pedras eram tão novas que estavam todas ásperas.

— Ai! Ui! — dizia a saltitar de uma pedra para a outra.

Dizem que foi deste hábito de saltitar que a jovem criou os primeiros passes de uma dança sensual, que todo santo dia, aprimorava as margens do rio. Sentada, depois, à beira do rio, a deusa alisava deliciada a sola clara dos pés.

— Um dia, um grande amor virá me espiar! — cantarolava, a massagear dedo pro dedo.

Então o sol, com seus intensos raios solares, esquentava cada vez mais. Oxum, com um veludo negro da pele perolado de suor, lançava-se à água, veloz – como filha dos rios. O tempo passou e Oxum continuou a ir, todos os dias, lavar sua beleza no rio, as pedras antes ásperas, tornaram-se seixos, de tão lisas que haviam se tornado.

— E o meu amor que não vem? — Cantarolava feliz, pois tinha certeza que um dia viria.

E um dia veio mesmo.

* * *

Oxum, certa vez, preparava-se para ingressar novamente nas águas do rio, quando um caçador surgiu, vindo do nada. De costas e curvada, com o objetivo de amarrar um chocalho no tornozelo, a deusa avistou, com o rabo no olho, o intruso.

Recompondo-se, a bela Oxum desviou os olhos do caçador, apenas para ter, logo em seguida, o gosto de pô-los sobre ele outra vez.

— Quem é você? — perguntou ela.

Recompondo-se, a bela Oxum desviou os olhos do caçador, apenas para ter, logo em seguida, o gosto de pô-los sobre ele outra vez.

O caçador, mostrando os apetrechos do seu ofício — um arco e uma aljava cheia de flechas —, nada disse. Um sorriso franco e direto, porém, retirava daqueles objetos toda e qualquer ameaça.

Oxum, apesar de ter o rosto oculto pelo véu de pingentes, devolveu o sorriso na mesma intensidade, que lhe escorreu pelo pescoço, e por todo o resto da sua pele suada. O caçador, encantado, sentou-se onde estava, a alguns metros do rio, para melhor apreciá-la. Oxum, dando-lhe as costas, adentrou, como já fizera milhares de outras vezes, as águas refrescantes do rio. Desta vez, porém, não o fez num mergulho direto, mas passo a passo.

O caçador sorriu novamente. Oxum feliz avançou mais um pouco, nos passo e dança que, há pouco tempo, aprendera a dançar. E novamente o caçador sorriu, faiscando todos os dentes à glória do dia. A bela Oxum dançava, agora, uma dança frenética e sensual. Ao ver, porém, que o caçador suava mais do que ela, lhe disse, então:

— Queres refrescar-se também? Pois bem sei a chuva fazer!

Então seus pés, em jogos de vento, chutaram a água do rio em todas as direções possíveis, fazendo uma verdadeira chuva invertida subir e cair novamente sobre ela com uma cachoeira de gotas. Oxum, com a pele negra lustrosa da água, dançava e revoluteava no interior desta chuva. Então, como se a chuva artificial de Oxum tivesse provocado os demais elementos da natureza, um grande vento quente começou a soprar, espalhando as gotas para todos os lados.

Oxum, deliciada e exausta, mergulhou novamente e lavou todo o suor que, mais que a água, a inundava.

O caçador, por sua vez, rigidamente sentado — não fosse erguer-se agora — acompanhava, depois da dança, o banho da deusa. Oxum mergulhava e lá se iam para o fundo a cabeça, as costas e todo o corpo, para muito depois ressurgirem somente a cabeça e o tronco. Mas o que doía no caçador, era a agonia de não poder ver os olhos de Oxum, sempre ocultos pelo véu de pingentes.

Tudo isto até que a bela deusa, lavada de todo suor, deixou o rio e começou a vir na sua direção.

“Ela vem atém mim", pensou o caçador, e assim foi: Oxum avançou e o beijou um por um bom tempo, até que veio o vento forte, num golpe ousado, lhe arrancando o véu de contas que lhe cobria o rosto.

Nesse instante, o caçador, de mãos postas à cabeça, exclamou:

— Iá Mi Oxorngá...! Iá Mi Oxorongá...!

* * *

“ia Mi Oxorongá” não é uma interjeição africana de espanto, senão o nome das temíveis feiticeiras ancestrais que, sob o formate de mulheres-pássaro, assombram o mundo. Só que ele se enganara, pois era Oxum que ele ainda tinha diante dos seus olhos, só que com o rosto da mais horrenda das velhas!

Tão espantada quanto o caçador, a deusa correu até o rio e pôs-se a se observar diante do espelho das águas. Com o movimento do corpo, a imagem turvou-se. Oxum, em pratos, viu apenas sua imagem disforme e oscilante do seu rosto. Os mais horrorosos dos reflexos!

— Iá Mi Oxorongá...! — repetia a voz do caçador às suas costas, misturado a uma ira de medo.

Aos poucos, o reflexo foi aclarando e os contornos da feiura da deusa se definindo.

— Não! Não! — Lamentava, enquanto sua imagem horrendamente nítida respondia. — Sim! Sim!

Oxum tinha agora diante de si, o retrato mais horrendo da decrepitude. Passou a mãos pelas maças murchas do seu rosto, sentindo a saliência repulsiva dos ossos.

— Velha, eu? — disse incrédula. — Velha, eu?

— Sim! Sim! — respondia a voz espectral. — Velha e feia!

Então, com um dó simulado, a imagem acrescentou:

— Então, minha garota? Só agora me da às boas-vindas ?

Oxum chorava, enquanto sua imagem gargalhava.

— ih, ih, ih Não viu, então que há muito tempo eu cheguei?

Oxum viu os dentes amarelos no reflexo de sal imagem.

Eram os seus dentes!

Então, ao perceber que ele pretendia fugir e espalhar a notícia, a deusa tomou rapidamente sua daga reluzente e avançou veloz como um raio, enterrando a ponta afiada no peito, bem no coração do caçador.

Morto o intruso, a deusa arrastou seus passos de volta para a margem do rio. Então, fixando o espelho silente das águas, mergulhou nele como quem mergulha pela última vez.

* * *

Uma vez dentro do rio, Oxum virou um peixe. Era época de seca e as águas estavam baixas. Oxum-peixe, sem mais poder aproximar-e das margens, refugiou-se no interior do rio.

Mas um dia, quando a época da cheia chegou, ele retornou até a margem — a antiga margem onde, muitas vezes, fora feliz nos seus devaneios e arrebatamentos.

— Quero rever os meus lindos seixos — disse a mulher-peixe, com sua boca redonda de lábios carnudos.

Oxum nadou e nadou até a margem e ali avistou os reluzentes seixos que seus pés haviam polido durante todos aqueles anos felizes que ela não quisera contar.

“Como eu era feliz em minha esperança!”, pensou a deusa, querendo outra vez esperar.

Aproximando-se mais da margem, viu luzir um seixo, que seus pés haviam polido mil vezes até dar-lhe o lustro espelho — e então, o milagre: Oxum viu luzir na pedrinha seu antigo rosto outra vez!

— Sou eu, jovem e linda! — disse ela, arregalando os olhos sem pálpebras.

Sim, lá estava ela de novo, tão bela como um dia o fora!

Oxum-peixe nadou veloz até outro seixo maior e ali viu-se belíssima também! Percorreu seixo por seixo e em todos eles viu refulgir sua antiga beleza, que o tempo jamais degradaria.

Desde então, Oxum espera todo ano as águas subirem para tornar-se , nos seixos, bela outra vez.

Baseado no Livro: As melhores histórias da Mitologia Africana.