"Na África, as nações das distintas partes do território têm seus modos diferentes de cortar o cabelo e são conhecidas por essa marca a que parte do território pertencem"
— Mahommah G. Baquaqua
O termo “diáspora” é originado do grego “diáspora”, no qual significa grande dispersão de povos, que ocorre de maneira forçada, por motivos sociais, políticos ou religiosos. A palavra foi originalmente utilizada para se referenciar à dispersão ocorrida aos judeus na Antiguidade, destaque para quando foram levados em cativeiro à Babilônia (séc. VI a.C) e também para o momento após a destruição de Jerusalém. (70 d.C).
A partir do século XIX, estudiosos que trabalhavam sobre o tema proporam utilizar o termo para referenciar ao longo processo de transmigração forçada de milhões de africanos para fora de sua terra mãe rumo ao mundo, destaque às Américas, motivada pela economia colonial mercantilista dos países europeus. Nisso, foi adicionado o termo "africana" justamente para especificar a qual diáspora se referem.
A diáspora africana está diretamente relacionada ao Tráfico Negreiro. Estima-se que mais de X milhões de homens, mulheres e crianças foram sequestradas de sua terra natal para alimentarem a cruel e lucrativa mão de obra escrava utilizada nas colônias. Nesse contexto, o Brasil se destaca como o local em que mais recebeu pessoas escravizadas. Estima-se que aproximadamente 5 milhões de negros vieram para o Brasil durante os séculos XVI e XIX, desses, mais de meio milhão morreram nos navios negreiros, antes mesmo de chegarem ao Império.
A diversidade é um elemento muito forte que compõe o continente africano, abordando várias áreas. Desde as diversas etnias que formam o povo africano, as línguas faladas por eles, costumes, gastronomia, religiões, mitologias e outros aspectos que juntos formam a identidade desse povo. Para que fosse viável a economia escravista, fora realizado a tentativa de destruir sua cultura e identidade. Pois, era preciso transportar uma grande quantidade de pessoas para outro continente reduzindo ao máximo tentativas de rebelião.
Entre as estratégias utilizadas, destaca-se a separação das etnias raptadas. Pois, como cada etnia possuía uma própria língua, era difícil que escravos se comunicassem para realizar alguma ação, nisso, houve uma quebra dos vínculos familiares, comunitários e religiosos existentes. Isso ia além, abrangendo muitas outras ações, como imposição da cultura europeia, como a religião, língua, etc.
A autobiografia de Mahommah Gardo Baquaqua é atualmente uma das únicas fontes que mostram o ponto de vista dos escravos durante esse período. O autor é originado do território que corresponde atualmente ao Benin. Nessa obra, ele conta como é escravizado, vem para o Brasil, sua jornada para conseguir sua liberdade nos Estados Unidos e suas experiências e sensações durante esses tempos. Entre partes marcantes no livro, em certo momento Baquaqua descreve como que a tentativa de apagar a identidade era feita de maneira detalhista.
Segundo ele, era comum que cada etnia em África possuísse um corte de cabelo característico, a fim de que outras pessoas soubesse a qual grupo o indivíduo pertencia. Para transformar os negros em “peças” que podem ser vendidas separadas do “corpo” (família e etnia), nas feitorias coloniais, antes de serem transportados no Atlântico, todos tinha seus cabelos cortados, como cita no seguinte trecho:
"Na África, as nações das distintas partes do
território têm seus modos
diferentes de cortar o cabelo e são conhecidas por essa marca a que
parte do território pertencem"
— Baquaqua (Biografia de M. G. Baquaqua)
A expedição de Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil.
A corte portuguesa autoriza a entrada de negros escravizados. Inicialmente, era permitido que cada senhor de engenho importasse até 120 pessoas.
O quilombo dos Palmares é invadido e destruído. Zumbi, líder do quilombo consegue fugir mas é capturado. No ano seguinte, em 20 de novembro ele é decapitado e sua cabeça é exposta em praça pública. A Lei Federal nº10.639/2003 estabeleceu no dia da morte de Zumbi o “Dia da Consciência Negra”.
A Inglaterra decreta ilegal o tráfico negreiro. Como consequência, começa a pressionar os países a aderirem sua decisão. O Príncipe Regente Dom João VI se compromete a implementar a abolição gradual no Brasil.
Na Assembleia Legislativa e Constituinte após a independência do Brasil, o estadista José Bonifácio propõe a extinção gradual do sistema escravista.
Esse foi o termo utilizado para se referir à Lei Feijó, no Período Regencial em que o Padre Feijó aprova. Na teoria, a lei proibiria o tráfico negreiro. Sua aprovação se dá pela pressão da Inglaterra. Entretanto, na prática o tráfico continuou sendo executado.
É assinada mais uma lei para proibir o tráfico transatlântico de escravos. No entanto, essa traria grandes mudanças de fato para a economia do Segundo Reinado, contribuindo para sua decadência e surgimento da Velha República.
A partir da data de sua assinatura, todos os filhos de escravas seriam considerados livres a partir dos 8 anos de idade.
Todos os escravos com mais de 65 anos seriam livres, contudo, mediante indenização. Para burlar a lei, os proprietários de escravos alteravam os registros das idades de seus escravos.
Após ser aprovada na Câmara Geral e Senado Imperial, no dia 13 de maio de 1888 é assinada pela Princesa Regente Isabel a lei que aboliu a escravidão. Vale citar que a pressão da Inglaterra foi um fator muito importante para que a lei fosse de fato aprovada. Todavia, os negros não foram integrados à sociedade, sem oportunidades de emprego, moradia de qualidade, etc. A partir de então, começaria uma longa jornada a fim de que esse povo libertado pudesse obter acesso a oportunidade e direitos civis.
Apesar da Abolição, o direito dos negros poderem votar só é garantido na Constituição de 34, durante o Regime de Vargas. Além disso, foi a primeira vez que uma mulher participou de uma Assembleia Constituinte.
A jornalista e educadora Antonieta de Barros se torna a primeira mulher negra a ser eleita para uma Casa Legislativa e ocupa o cargo em Santa Catarina.
A Lei Afonso Arinos determina que o racismo seja punido com um ano de prisão ou multa.
Zózimo Bulbul se torna o primeiro ator negro brasileiro protagonista de uma telenovela. Além disso, é o primeiro modelo negro de uma grife de alta-costura brasileira.
A Constituição de 88, aprovada após a redemocratização do Brasil, assegura aos grupos remanescentes dos quilombos o direito de posse das terras no qual ocupam.
Por meio da Lei Caó, o racismo é categorizado como um crime inafiançável.
A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) é a primeira universidade do Brasil a adotar o sistema de cotas raciais.
Joaquim Barbosa assume o cargo mais alto do Poder Judiciário. Durante sua presidência que é julgado o caso do “Mensalão”.
A Universidade de São Paulo (USP) adota o sistema de cotas raciais para reserva de vagas.
Yorùbá em português Iorubá, é o nome de um dos maiores grupos-étnico-linguístico do continente africano, com mais de 30 milhões de pessoas em toda a região. Na prática, o termo refere-se a uma coleção de diversas populações interligadas por uma língua comum de mesmo nome, além de uma mesma origem cultura e histórica.
A maior parte dos iorubás vive na Nigéria, mais precisamente na região sudoeste do país, correspondendo a aproximadamente 21% da população total, tendo seu desenvolvimento segundo historiadores, a margem sul do rio Níger. Mesmo assim, há também importantes comunidades presentes em Benim, Gana, Togo e Costa do Marfim. Contudo, devido ao tráfico de escravos bastante ativo entre os séculos XV e XIX, muitos traços da cultura, língua, música e costumes foram disseminados por extensas regiões do continente americano, com destaque para Brasil, Cuba, Trinidad e Tobago e Haiti. Vale lembrar, que boa parte da população negra no Brasil veio de terras iorubás.
Os Iorubás na atual Nigéria são uma importante etnia, representando cerca de um sexto da população. Majoritariamente são católicos, mas uma parte segue também o islamismo, assim, o culto tradicional fica em terceiro lugar. Cerca de 75% dos homens são agricultores de subsistência, e as mulheres geralmente são encarregadas de vender parte do excedente nos mercados populares das cidades. E nessas cidades, os iorubás respeitam além das autoridades formais, o líder temporal, o “Oba”, que conquista sua posição de várias formas diferentes, incluindo herança, casamentos, ou sendo pessoalmente selecionado por um Oba já no poder. Cada Oba é geralmente auxiliado por um conselho de chefes, além disso, é considerado um descendente direto do Oba fundador de cada cidade.
Dentro da cosmovisão iorubana, as histórias míticas revelam os caminhos aos homens, demonstrando a maneira como aquele que pede, consegue atingir o seu objetivo. Elas oferecem uma orientação, uma espécie de referência última para a vida terrestre. São os mitos os instrumentos para interpretar a realidade, afirmando e reafirmando as verdades iorubanas, e dão dicas de como se deve comportar para obter sucesso. (Ver Joseph Campbell em as funções do mito).
Na Mitologia Ioruba, Olorum é o deus supremo, também chamado de Olodumaré. Não aceita oferendas, pois tudo o que possuí existência e pode ser ofertado já lhe pertence na qualidade de criador de tudo o que existe em orun (o céu ou o mundo espiritual).
Existem algumas variantes do mito da criação Iorubá, mas, de uma forma geral, há três principais raízes mitológicas, as quais se diferenciam em detalhes, porém, matem uma linha central, ou seja, a mesma função mitológica (Ver Joseph Campbell em as funções do mito).
Em algumas, Obatalá é o criador, não apenas do mundo, como também da humanidade, criando simultaneamente, no orun (mundo espiritual) e no ayé (mundo material). Em outras, Odudua, também chamado de Oduduwa, cria o mundo após Obatalá ter falha na issão por ter ser embriagado com o emu (vinho de palma), restando a ele o poder da criação da humanidade no orun e no aye. Em outra variante, esta sendo mais recente, Orunmilá (a divindade do oráculo ifá) é o criador da Terra enquanto Obatalá é o responsável pela criação da humanidade, em ambos os níveis. No entanto, assim como já mencionado, apesar de serem diferentes, todas elas uma vez fazendo parte do conjunto de mitos, cumprem com as suas funções mitológicas.
A população iorubá encontra sua procedência primitiva em um núcleo aborígene ancestral, posicionado em torno da cidade de Ifé, antes de ser subjugado pelo guerreiro Oduduwa, considerado o criador desta civilização, e por seus seguidores.
Os povos africanos apoiam-se integralmente no poder da oralidade, a qual, no aso das tradições iorubás, se mantém ao longo de séculos no interior dos Poemas Sagrados de Ifá, de onde esse povo extrai a base fundamental para preservar seu legado, permitindo a uma geração transmitir sua herança ancestral à que lhe sucede, mesmo distante de seu lugar de origem, nas Américas, especialmente no Brasil e em Cuba.
Esse caráter consagrado da palavra confere-lhes o dom de criar cenários, pois ela abriga um universo mítico. Seus mestres têm a responsabilidade de estabelecer vínculos de conexão entre as entidades divinas como os orixás, os ancestrais e os futuros iorubás, disponibilizando o legado cultural desta civilização.
Tendo em vista a força do povo iorubá, sua cultura se espalhou pelo mundo, fazendo com que fosse praticada por mais de 100 milhões de pessoas. Sabe-se que os mesmos preservavam o costume da produção de artefatos artísticos como: ornato de cordas, debrum, tranças, tatuagem, perolização, o uso da argila e cerâmica, bronze, tecelagem e tingimento, escultura em madeira entre diversas outras formas de arte. Outras características culturais são os cultos Egungun, Gueledé, a arte de Ifá, e os atributos estéticos utilizados pelos mesmos, seja através dos trajes ou das máscaras.
Com isso, há um destaque da cultura iorubá que são justamente esses trajes, que são bem elaborados e feitos tradicionalmente de algodão. O mais básico é a Aso-Oke, com muitas cores e padrões diferentes. E um dos trajes masculinos típicos é o Agbada, cujo nome no Brasil virou sinônimo de uma espécie de uniforme de um determinado bloco de carnaval.
Dessa forma, não apenas deve-se atentar a arte tradicional, mas também a arte contemporânea que, mesmo sendo influenciada ao longo dos séculos pelo processo de diáspora africana, permaneceu viva e ainda ligada a questões mitológicas dos indivíduos como os orixás.