Xangô

Xangô, também conhecido Shango ou Sango, é o orixá da justiça, do trovão, do raio e do fogo. De acordo com a lenda, Xangô era o rei de Òyó (região que hoje é a Nigéria) e possuía um caráter autoritário e violento, além de ser extremamente viril, atrevido, vaidoso e justiceiro. É um orixá violente que castiga os mentirosos, os malfeitores e os ladrões. Por esse motivo, a morte pelo raio é considera infamante. Xangô é o orixá do poder, ele é a representação máxima do poder de Olorum. No sincretismo os africanos o ligaram a São João Batista.

Diferentes Mitologias

Na mitologia romana, Xangô equivale a Júpiter, o pai e mestre dos deuses; na mitologia grega, Xangô equivale a Zeus, aquele que usava seus raios para punir os mortais; e, na mitologia nórdica, Xangô equivale a Odin, o deus de sabedoria e da magia. Estas correspondências podem ser feitas devido ao poder supremo que todos os eles possuem.

Etimologia

Xangô é uma palavra de origem iorubá, onde o sufixo "Xa", tem o significado de "senhor"; "angô" (AG + NO = "fogo oculto") e "Gô", pode ser traduzido como "raio" ou "alma". Nesse sentido, "Xangô" significaria "senhor do fogo oculto".

Mito: Xangô faz valer a justiça

Xangô, é um deus guerreiro que assim como Ogum, saber fazer valer sua valentia.
Em certa ocasião, as coisas começaram a ir muito mal para o seu lado, o inimigo além de mais forte, havia se revelado de uma crueldade implacável.

— Senhor, nossos soldados capturados estão sendo massacrados! — disse um emissário para Xangô.

Xangô, raivoso, amaldiçoou o inimigo. Sua ira, no entanto, parecia não er mais o suficiente para acabar com as atrocidades inimigas.

— Lutemos sempre! Lutemos até a morte para libertar nossos soldados! — bradou ele, tomando novamente nas mãos o machado (também chamado de Oxé).

Uma nova massa de soldados formou-se rapidamente ao redor do rei de Òyó. Todos aqueles corpos cobertos de ferimentos só pediam uma coisa (luta e mais luta), a fim de impedir que as dores do corpo e da humilhação da alma lhes trouxessem o desânimo.

E assim o dia passou – em sangrentos confrontos. Xangô e seus homens, apesar de estarem em menor número, conseguiram recuperar a honra, matando muitos inimigos. Com chegar da noite houve-se uma trégua natural que pôs fim momentâneo as combates. Era o momento de contar os feridos e os mortos. O deus da justiça, de cabeça erguida, passou em revista os seus homens: mais da metade estava agora fora de combate.

— Infelizmente, tivemos mais homens aprisionados — disse um dos seus generais.

Xangô franziu o cenho. Tinha a consciência do que aquilo significaria aos pobres desgraçados.

— Meu general, responda-me uma coisa — disse ele, francamente irritado.

— O que pensa de um exército do qual são feitos mais prisioneiros do que mortos?
O general silenciou, constrangido.

— São muitos prisioneiros para o meu gosto, senhor geral! — insistiu o Xangô

— Bem, eu diria que são consequências da luta, senhor.

— Eu diria meu general, que a consequência suprema de um guerreiro é a de morrer lutando! Com Honra!

Ofendido nos seus brios marciais, o general tentou, portanto, salvar a dignidade dos seus homens.

— Meu rei, perdoe-me, mas não posso lhe garantir que nenhum dos nossos rendeu-se durante a luta!

— Pois então são fracos ao invés de covardes! — explodiu Xangô.

— E o resultado é um exército formado por uns ou por outros, é sempre assim: derrota e humilhação!

Foi neste instante que a conversa fora interrompida pela chegada de um soldado a carregar um enorme cesto.

— O que quer idiota? — disse Xangô, acidamente.

— Perdão, grande rei. Este é o cesto deixado nos limites do nosso acampamento pelo inimigo.

Num ato instintivo, Xangô olhou para o rosto do general. Seus olhos fixavam o chão, como se já adivinhasse, de antemão, o conteúdo do samburá maldito.

— Despeje, vamos! — ordenou raivosamente Xangô, disposto a levar até o fim aquilo que, a exemplo do general, já sabia ser a mais sórdida e atrevida de todas as afrontas.

Logo em seguida começaram a saltar sobre o chão, pedaços dos corpos dos prisioneiros, cobertos de pó e tintos de sangue.

Foi só então que Xangô compreendeu que precisaria da ajuda de Orunmilá (o deus dos oráculos). Ainda sob a luz das estrelas, subiu ao topo de uma montanha próxima ao acampamento.

— Orunmilá, ajude! — disse o rei de Òyó, quase em prantos.

— Veja a ignomínia que desceu sobre os meus soldados e sobre a minha honra! Diga-me o que devo fazer para derrotar meus inimigos que violam a dignidade dos prisioneiros, afrontando as leis sagradas da guerra!

Orunmilá prescreveu uma oferta que deveria fazer ao céu. Depois, tomando o machado, ordenou que começasse a bater sobre as pedras, com toda a sua força.

— Ainda hoje irá derrotar o seu inimigo! — disse Orunmilá. — Mas, lembre-se: seja magnânimo na vitória!

Xangô fez o que o deus ordenara, até finalmente começar a descarregar sobre as pedras da montanha toda a força do seu oxé(machado).

Todos viram lá de baixo, assim que os estrondos começaram a abalar a montanha, explodirem faíscas, que logo em seguida transformaram-se em labaredas enormes como poderosas línguas de fogo. Apavorados, os inimigos de Xangô começaram a bater em retirada. Mas a fúria de Xangô tinha apenas começado, e uma chuva de fogo desceu do alto da pedreira, alcançando o acampamento inimigo. O fogo engoliu as tendas inimigas e os homens que tentavam fugir, corria como verdadeiras tochas humanas, antes de caírem sobre o pó, estorcendo-se nos últimos espasmos de agonia.

Em pouco tempo, nada mais restava do acampamento, a não ser um amontoado de carne humana calcinada. Os poucos inimigos que conseguiram escapara da chuva de fogo, estava encurralados contra um paredão rochoso, aguardando a qualquer momento, a chuva dos raios mortais.

Xangô ergueu o machado e preparou-se para desferir o último golpe, quando, antes mesmo de lembrar-se da advertência do deus, paralisou o braço no ar.

— Vamos! Acabe com todos eles — bradou o general, lá embaixo, minúsculo como uma formiga.

— Não, já basta! — disse Xangô, baixando o braço sem desferir o golpe fatal sobre as pedras.

Vitorioso, o rei de Òyó desceu à planície e fora festejar com seus companheiros. Enquanto aos inimigos sobreviventes, deixou que partissem, pois já não tinham mais chefes nem rei.

E foi por causa da piedade que demonstrou neste dia que Xangô tornou-se o deus da justiça.

Baseado no livro: As Melhores Histórias da Mitologia Africana