IEMANJÁ

Iemanjá é um Orixá feminino. Seu nome em Ioruba “Yèyé omo ejá” significa “Mãe cujos filhos são como peixes”. A Iemanjá é exaltada por negros e por brancos, possui vários nomes: sereia do mar, princesa do mar, rainha do mar, Inaé, Mucunã, Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Sereia, Maria, Dona Iemanjá; dependendo de cada região, mas sua origem vem da África:

“A Iemanjá brasileira consiste no resultado da miscigenação de elementos europeus.”

A Iemanjá tem poderes sobre tudo e todos aqueles que entram em seu domínio, o mar. Ela é venerada e respeitada pro pescadores e todos aqueles que vivem no mar, pois a vida dessas pessoas depende do que ela decidir. Segundo a lenda, ela é a orixá que escolhe o que irá acontecer com o destino das pessoas que adentram no seu império: enseadas, golfos e baías. Dona de poderes, a tranquilidade do mar ou as tempestades estão sob o seu domínio.

Sincretismo Religioso

Iemanjá é Negra!

O fenômeno do sincretismo emprestou novos contornos à imagem de Iemanjá. Além da relação com Nossa Senhora, em suas mais diversas fases e faces, houve uma fusão com mitos indígenas, nos quais as histórias das Iaras, Janaínas e mães d’água também deram um toque de misticismo à deusa africana, fazendo surgir a ideia de grande mãe de todos os brasileiros, festejada nos litorais de Norte a Sul, com suas longas madeixas, sua túnica azul, suas ancas largas, seu diadema de estrelas e seus braços acolhedores sempre abertos.

No século XV, com a navegação dos europeus, principalmente os portugueses, aqueles que viajavam pediam proteção a Nossa Senhora, para retornarem salvos à pátria. O simbolismo da mulher corajosa e orientadora dos viajantes contribuiu para que Maria fosse vista com uma eterna vencedora dos inimigos e das tempestades. O fenômeno de sincretismo encontra-se na relação dessas duas figuras, ele emprestou novos contornos á imagem de Iemanjá. Os portugueses não permitiam as pessoas escravizadas o culto aos seus Orixás. Em vista disso, muitas dessas pessoas continuaram a cultuar as entidades de sua religião nas imagens católicas, como forma de dar continuidade a sua crença e evitar problemas com os colonizadores. Por isso quando se fala de Iemanjá, muitas pessoas imaginam a figura e uma mulher branca, sendo ela a Nossa Senhora das Candeais. Essa imagem popularizou por todo o Brasil e também nas religiões de matriz africana, que, por não estarem apartadas da sociedade e pelo dinamismo próprio da cultura, absorveram diversos traços do sincretismo. Isso não é necessariamente um problema, a grande questão é quando deliberadamente os traços negros são apagados em processos de apropriação indevida.


“A Iemanjá e todos os orixás são negros, e antes de alguém dizer que energia não tem cor, vale lembrar que ancestrais têm origem e têm história.”

MITO: Iemanjá cria a Lua

Nos primeiros tempos do mundo, havia apenas dia e mais nada. O responsável por isso era o sol, também chamado de Orum (que é também a denominação do céu iorubá), que desde a sua criação, não parara de lançar seus raios sobre a terra, sem dar a mínima importância para as consequências de sua atitude.

— Não me importo, eu quero é brilhar! — dizia ele, sem conceder nem se quer um pouco de sombra a ninguém.

O resultado foi a seca da vegetação, que em pouco tempo, fez com que os animais e as pessoas começassem a morrer, sendo elas as vítimas da primeira e mais pavorosa seca já vista no mundo.

Então, certo dia, os deuses decidiram reunir-se com Olorum, o deus supremo, para dar fim à vaidade de Orum-Sol. Quem mais se prejudicava era a pobre Oxum, deus das águas doces.

— Deus supremo, veja só a que estado cheguei! — dizia ela, mostrando sua face chupada e seus membros cadavéricos.

Oxossi, deus da caça, também tinha motivos o suficiente para reclamar.

— Não resta mais nada para caçar, grande Olorum, senão algumas lagartixas! — disse o deus, que assim como Oxum, começara a assumir um corpo com características esquálidas.

A situação estava tão alarmante, que até Omulu, deus das moléstias contagiosas, apareceu na reunião para fazer também a sua queixa.

— Não existem mais ninguém para espalhar minhas ricas doenças!

Omulu chegara a espalhar a varíola sobre as pedras, no entanto, decididamente, não era a mesma coisa! Com seres humanos era outro cenário.

— Se ninguém tomar alguma providência, irei inocular o vírus no próprio Sol! — berrou ele, a coçar duplicadamente as chagas por debaixo da sua veste de palha.

E progressivamente, todos os demais deuses foram apresentando as suas queixas — Xangô, Ogum, Iansã, entre outros —, de tal modo que Olorum resolveu chamar ao concílio o responsável por toda aquela confusão.

— Exu, é com você — disse o deus supremo ao deus mensageiro.

Sabendo que o negócio ia estourar, afinal, sobre si, Exu, já no meio da reunião, começou a calçar suas alpercatas e a tomar seu porrete, e logo estava no encalço de Orum-Sol. Não demorara muito para encontrá-lo, uma vez que o Sol com seu cômico narcisismo estava a brilhar por toda a parte.

— Acabou a festa! Olorum que o chama imediatamente! — disse Exu, assim que encontrou o Sol fora do palácio.

— O que ele quer comigo? — replicou o sol, aborrecido como um filho caprichoso e desobediente.

— Vá até ele e descubra por si só — respondeu Exu, já retornando.

Orum, porém, não fez o mesmo, e continuou a brilhar em sal jornada escaldante.

— Você está surdo? — Exclamou Exu, suando por todos os poros.

— O ofício dos astros é brilhar Exu e não fazer parte de reuniõezinhas! — respondeu o Sol de forma arrogante.

Exu compreendeu com esta resposta, que sua tarefa não seria fácil.

— Desgraçado, volte aqui! — disse ele começando uma perseguição miserável que durou vários dias, e só acabou após ambos darem quatro voltas inteiras ao redor do mundo.

— Está bem, importuno, eu irei! — disse o sol, satisfeito em ver o quanto era importante.

Assim que viu-se, porém, diante de Olorum, Orum estremecera.

— Até quando você acha que vou esperá-lo? — disse o deus supremo, complementando em seguida: — Vamos, explique-se: quer acabar com o mundo de uma vez só?

Estou apenas cumprindo com o meu glorioso ofício de astro! — respondeu ele, rabugento.

— O seu ofício mais parece ser o de acabar com o dos outros! — interveio furiosamente Xangô.

— O melhor e não esquentar a cabeça! — disse o sol.

Entretanto, com o decorrer da discussão — a qual se reacendeu outra vez, com renovado furor —, todos puderam constatar o cansaço do sol, pois logo começara a cabecear de sono repetidas vezes.

Em uma dessas vaciladas, o sol ao toque suave de Iemanjá em suas costas, a deusa do mar, que também estava magra quanto a pobrezinha da Oxum, fora surpreendido.

— Admita, bom Orum, que você também não aguenta mais trabalhar sem descanso — disse ela.

— Brilhar não é trabalho e sim o maior de todos os prazeres!

— Até mesmo os prazeres cansam, e você sabe disso Orum. Além do mais, você está correndo o sério risco de extinguir-se, você quer realmente isso?

Finalmente uma retrucada certeira! No mesmo instante, o sol tornou-se vagamente pálido, o que entusiasmou a deusa.

— Veja bem, acho que teu tenho uma solução para o nosso problema! — disse Iemanjá, num gesto tão imprevisto quanto espetacular, o seu vestido.

A assembleia se espantou quando a deus retirou de debaixo das vestes alguns flamejantes raios de sol. (Onde exatamente estiveram ocultos durante todo reunião, tamanho foi o clarão que ninguém conseguiu explicar).

— Permita deus supremo, que eu crie, a partir destes poucos raios, um segundo e refrescante sol — disse Iemanjá, amassando suavemente as flamas em suas mãos e simultaneamente as assoprando.

Dali a pouco tempo, a deusa tinha nas mãos uma bola enorme e prateada, a qual chamou de LUA.

— Eis o novo astro! — disse Iemanjá, lançando-o para o alto. — Já pode descansar Orum querido!

Porém o sol, apesar do descanso, resolveu implicar novamente. Enciumado daquela aquela nova e prateada rival, só pôde colocar finalmente a sua vaidade cósmica para dormir depois de arrancar a promessa da deusa de que a Lua seria rebaixada da nobre condição de astro, para a de satélite da terra, colocando fim em toda aquela situação.

Baseado no Livro: As melhores histórias da Mitologia Africana.