IANSÃ

Oyá, Iansã ou Inhançã é a senhora dos ventos e dos raios, a deusa que comanda as tempestades e o espírito dos mortos, os quais controla utilizado um rabo de cavalo chamado Eruexim (um dos seus símbolos), características esta que a torna como o único orixá com poder para controlar a ação de espíritos negativos. Iansã é valente e briguenta, não aceita ordens nem escuta desaforos. É independente, nunca se deixa dominar, só obedece a si própria. Na mitologia iorubá, seu nome Oyá também conhecido como Oiá ou Iansã, provém do rio de mesmo nome da Nigéria. É uma divindade das águas assim também com Oxum e Iemanjá, mas está relacionada ao elemento ar, sendo uma das divindades que ao lado de Ayrá e Afefê controla os ventos.

Diferentes Mitologias

Na mitologia grega esse Orixá é representado por Juno ou Hera, deusa combativa da guerra.

Sincretismo Religioso

Iansã é usualmente associada à Santa Bárbara, esta última é uma divindade católica que foi morta pelo pai ao se converter ao cristianismo. Após a execução de Bárbara, um raio atingiu a cabeça de seu pai. Pela razão da morte, muitos associam a santidade católica ao poder que Oyá tem de controlar os ventos e raios. Além disso, o fato de Santa Bárbara ser representada com uma espada nas mãos reforça ainda mais a aproximação junto ao orixá.

MITO: Iansã e o novo rio

Esta lenda, apesar de não fazer referência alguma aos dons meteorológicos de Iansã, nos mostra como ela salvou o seu reino da invasão. O episódio começa com um rei muito, mas muito preocupado. Naquele tempo, as verdadeiras preocupações estavam sempre relacionadas a guerras. Assim, após pensar bastante, o rei decidira consultar-se com o deus dos oráculos (Orunmilá) para encontrar uma solução para o caso.

— Minhas apreensões crescem cada vez mais aos dias, Orunmilá! — disse ao deus.

— Muito bem, me diga quais são suas pretensões— disse o deus, preparando seu material divinatório.

— Cheguei a uma conclusão aflitiva sobre uma grande deficiência que pesa sobre o meu reino!

— Sei bem qual seja — disse Orunmilá, sem menor surpresa, como convém à classe dos adivinhadores.

O rei parou por um momento, aparentando estar angustiado, resolveu encurtar o negócio.

— Desculpe, esqueci-me dos seus maravilhosos dons! — disse ele, aliviado. — Para poupá-lo, então, de algo que já conhece perfeitamente, vou lhe perguntar, apenas uma coisa: o que devo fazer acerca disto?

Orunmilá permaneceu sereno.

— Regras? — exclamou o rei, atrapalhando

O rosto do oráculo continuou sereno. Os olhos, no entanto, ganharam certa expressividade.

— Oh, sim, as regras da adivinhação! — disse o rei. — passo a passo, aquele negócio todo, né?

Silêncio profético-sapiencial.

— Bem, o fato é que depois de muitas observações, cheguei à conclusão de que as fronteiras do meu reino são totalmente inseguras!

— Já o sabia — reagiu Orunmilá, serenamente.

— Se já sabe tudo, então devo repetir as coias ? — perguntou o rei, impacientando-se.

Orunmilá, sem perder a fleuma, retrucou:

— Ninguém repete nada. Você diz algo eu já sei, você prossegue e eu também, ate o momento do oráculo. Ninguém repete nada, entende?

— Está bem! Mas me digna então, o que devo fazer pata tornar seguras as minhas fronteias!

Tudo dito, Orunmilá chacoalhou os búzios e lançou-os sobre o chão.

— O que diz aí? — perguntou o rei inquietamente, tentando ler no amontoado de búzios.

— Diz que você deve oferecer aos deuses uma peça de tecido negro.

O rei aproximou a cara dos búzios, com ar de extraordinária curiosidade.

— Um pano negro? — perguntou o rei, abismado, adotando um ar de cumplicidade afável, continuou: — diga-me uma coisinha: onde, exatamente, está dito isso?

Após efetuar um longe estudo das peças, ele mesmo exclamou, afinal:

— Já sei! É está coisinha escurinha aqui? Não é?

O ar severo de Orunmilá, porém, fê-lo silenciar instantaneamente.

— Muito bem e depois? — disse o rei.

— Este tecido deverá ser rasgado por uma mulher virgem

— Rasgado por uma mulher virgem! — repetiu o rei, maravilhado.

— O que eu falei a respeito de repetições? — Advertiu Orunmilá. Perdendo de vez a paciência.

— Perdão, grande deus! E o Que esta jovem deverá fazer com os pedaços de pano preto rasgado?

— Que ela os lance sobre a parte mais desprotegida do sue reino. E adeus

O rei, maravilhado daquela receita, pensou muito e chegou à uma nova conclusão: sal filha deveria ser a mulher encarregada de cumprir o oráculo. Abandonando às pressas a tenda do deus, ele correu, então, por todo o reino, em busca do tal tecido preto.

Porém, infelizmente, não havia tecido preto em parte alguma.

— Como não? — esbravejou ele às costureiras do reino.

— Perdão, alteza, mas quem vai usar um tecido preto debaixo deste sol causticante?

— Todas vocês, se eu perder a guerra! — Alimárias!

Desesperado, o rei correu até o palácio real para chamar a sua filha

— Iansã! Iansã! — bradou ele, alucinadamente, pelos corredores

De um dos quartos, surgiu uma jovem negra de beleza encantadora a trajar um manto todo preto. Tomando-a nos braços, o rei despejou-lhe no rosto o mau hálito dos aflitos:

— Minha filha, venha já comigo! Só você pode salvar nosso reino!

— Para onde está me levando meu pai? — perguntou ela, envolta do manto preto.

Para piorar as coisas, assim que ambos chegaram ao local onde deveria dar-se a invasão, recebeu a ordem de despir imediatamente o manto.

— O que disse meu pai? — gritou ela, arregalando as amêndoas oculares.

Sem lhe dar ouvidos, o rei começou a puxar o mando da jovem até quase esgarçá-lo.

— Não pare! Pare! Por que devo despir-me a céu aberto? — gritou ela

— É para salvar o reino! O oráculo ordenou que uma virgem pura e imaculada rasgue um tecido negro no ponto mais vulnerável da cidade. Vamos, faça o que digo!

Então, ao saber que era para uma causa tão nobre, Iansã acatou finalmente a ordem.

— Está bem, eu o farei — disse ele, despindo-se em um só gesto do seu manto negro.

A cor da sua pele era tão escura quanto o manto que despira. Na verdade, perecera restar em seu corpo apenas um pequeno pedaço do tecido aderido um pouco abaixo do seu ventre.

— Tire-o também! — bradou o pai, temeroso de que a ausência daquele retalhinho pudesse comprometer o arranjo. Logo, porém, desfez-se o engano e a jovem pôde começar a sua parte no trabalho.

— Vamos, rasgue-o! — disse o rei, e Iansã cortou a primeira tira do tecido negro.

Neste instante a jovem foi tomada por um júbilo misterioso que a fez entoar uma cantiga.

— Oiá, ela cortou! Oiá, ela cortou! — cantarolava ela, como num transe.

A música era bem pobrezinha, limitando-se à repetição infinita deste estribilho.

O milagre, no entanto, aconteceu assim que a primeira tira caiu sobre o solo: instantaneamente ela transformou-se num espesso fio de água negra e corrente.

— Corte mais! Corte mais! — gritou o rei, saltitando de alegria

Iansã cortou logo outra tira largou-a no mesmo lugar, assim, cortando e cantando, enquanto aos seus pés formava-se um rio de águas negras e cautelosas.

E tanto foi que, quando a deusa terminou, estava vestida outra vez, porém não mais do manto, mas das águas negras de Odô Oiá, o novo rio que se formara nos limites extremos do reino.

Baseado no Livro: As melhores histórias da Mitologia Africana.